• ZONA COSTEIRA E MARINHA:
- O Brasil possui uma linha contínua de costa Atlântica de 8.000 km de extensão, uma das maiores do mundo. Ao longo dessa faixa litorânea é possível identificar uma grande diversidade de paisagens como dunas, ilhas, recifes, costões rochosos, baías, estuários, brejos e falésias.
- Mesmo os ecossistemas que se repetem ao longo do litoral - como praias, restingas, lagunas e manguezais - apresentam diferentes espécies animais e vegetais. Isso se deve, basicamente, às diferenças climáticas e geológicas. Na região costeira a paisagem varia em função da ação dos ventos e da água marinha. Grande parte da zona costeira, entretanto, está ameaçada pela superpopulação e por atividades agrícolas e industriais. É aí, seguindo essa imensa faixa litorânea, que vive mais da metade da população brasileira. O litoral é classificado em três formações que se diferenciam pela topografia, edafologia (características do solo) e pela botânica: litoral rochoso, litoral arenoso e litoral limoso.
- O litoral rochoso é composto pelo que conhecemos por costões rochosos, rochas que partem de dentro d'água e se elevam até constituírem pequenos morros, cristas, lombadas ou muralhas (falésias). A parte inferior, raramente emersa, cobre-se de algas sensíveis à exposição direta ao sol. A zona das marés, periodicamente submersa e descoberta, também apresenta algas adaptadas à exposição periódica ao sol. A zona superior, onde a água do mar não chega, se não excepcionalmente, as algas são substituídas por liquens, pioneiros na colonização de rochas nuas e expostas à ardência solar, normalmente associados a musgos. Acima surgem os grupos de plantas rupestres xerófilas, que só recebem água da chuva de orvalho ou de nevoeiro. Aí podemos encontrar numerosas espécies de bromélias e agaves. Onde o solo é mais profundo podemos encontrar algumas espécies arbustivas dentre as quais a clusia, a palmeira gerivá e cactáceas.
- O litoral arenoso é subdividido em praia, anteduna, duna e depressões coletoras de água pluvial. A praia é a parte vizinha ao mar, sujeita a inundações diárias pelas marés altas. Aí não existe vegetação, raramente algumas espécies de comportamento rastejante.
- A anteduna é a faixa entre o limite da maré alta e o início das dunas. Uma vez ou outra é coberta pelo mar, por isso, a areia contém sal que as chuvas não conseguem eliminar completamente. Nessa área a areia está sempre úmida e ocorre algumas espécies vegetais rastejantes e algumas espécies eretas.
- As dunas são caracterizadas por morros ou cômodos de areia cuja porção inicial é despida de vegetação ou a tem tão rala que mal fixa o substrato, o qual é móvel sob a ação dos ventos. Temos aí, dunas móveis e semifixas. Mais para o interior, a vegetação adensa-se sobre elas e temos as dunas fixas, imobilizadas sob a cobertura vegetal. Aí a vegetação é mais compacta e é comum que haja vastas planícies onduladas, que terminam em lagoas internas, alagadiços ou no sopé da encosta serrana. Aí podemos encontrar vegetação arbustiva, baixa e xerófila, rica em cactáceas, mirtáceas e bromeliáceas. A vegetação arboriforme, típica de restinga, pode conter o cajueiro, espécies de ficus, o araçá, dentre outras tantas.
- As depressões coletoras de água pluvial constituídas por alagadiços, brejos e banhados, mais ou menos rasas e ocorrem sempre nas restingas.
- O litoral limoso é alcançado pelas marés e seu substrato é uma lama negra. Aí ocorre um dos mais bem caracterizados tipos de vegetação tropical, o mangue. O manguezal é observado particularmente ao longo de cursos d'água e em torno de calmas baías, onde terminam estuários fluviais, bem como para o interior, em torno de brejos e lagoas. O manguezal é um tipo singular de vegetação litorânea, resultante da mistura da água salgada do mar, com os sedimentos provenientes dos rios. O solo é lodoso, e quase sempre encharcado (variando com a maré), sua salinidade é alta, e é pouco arejado; o que impossibilita a existência de uma rica flora. Durante a maré alta, o mangue mostra-se alagado. Na maré baixa, exibe uma lama fina rica em raízes trançadas. Duas vezes ao dia ocorrem fluxo e refluxo, cobrindo e descobrindo o terreno lamacento. Em conexão a esse processo, estão dois fatores do ambiente que limitam e especializam a vegetação do mangue: o conteúdo salino e a carência de oxigênio. Devido a grande quantidade de matéria orgânica em decomposição o mangue apresenta odor de enxofre característico. Mas esta grande quantidade de matéria orgânica e por ser uma região abrigada de embate das ondas, o mangue é escolhido por muitas espécies de crustáceos e de outros organismos como local de desova. As características do mangue fez com que surgissem adaptações na flora para conseguir sobreviver. Um exemplo é a existência de raízes escora, raízes aéreas (pneumatóforos), espécies que produzem frutos que não se desprendem dos galhos, possibilitando que suas sementes germinem na porção aérea, emitindo raízes longas e verticais que possibilitam a rápida fixação, ao cair ao solo.
- O litoral amazônico, que vai da foz do Rio Oiapoque ao Rio Parnaíba, é lamacento e tem, em alguns trechos, mais de 100 km de largura. Apresenta grande extensão de manguezais, assim como matas de várzeas de marés. Jacarés, guarás e muitas espécies de aves e crustáceos habitam esta região da costa brasileira.
- O litoral nordestino, que começa na foz do Rio Parnaíba e vai até o Recôncavo Baiano, é caracterizado por recifes calcários e arenitos, além de dunas que, quando perdem a cobertura vegetal que as fixa, movem-se com a ação do vento. Há ainda nessa área manguezais, restingas e matas. Nas águas do litoral nordestino vivem o peixe-boi marinho e tartarugas (ambos ameaçados de extinção). O litoral sudeste segue do Recôncavo Baiano até São Paulo. Esta é a área mais intensamente povoada e industrializada do país. É caracterizada por falésias, recifes, arenitos e praias de areias monazíticas (mineral de cor marrom escura). Esta região é dominada pela Serra do Mar e tem a costa muito recortada com várias baías e pequenas enseadas. O ecossistema mais importante dessa área são as restingas. A região ainda é habitada pela preguiça-de-coleira e pelo mico-sauá (espécies ameaçadas de extinção).
- O litoral sul começa no Paraná e termina no Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul. Cheio de banhados e manguezais, o ecossistema da região é riquíssimo em aves, mas há também outras espécies como o ratão-do-banhado, lontras (também ameaçados de extinção), capivaras etc.
- Há muito ainda para se conhecer sobre a dinâmica ecológica do litoral brasileiro. Complexos sistemas costeiros distribuem-se ao longo do litoral, fornecendo áreas para a criação, crescimento e reprodução de inúmeras espécies de flora e fauna. Somente na costa do Rio Grande do Sul, reconhecido refúgio de aves migratórias, foram registradas, aproximadamente, 570 espécies. Muitos desses pássaros utilizam a costa brasileira para alimentação, abrigo ou como rota migratória entre a América do Norte e as partes mais ao sul do Continente.
- A faixa litorânea brasileira também tem sido considerada essencial para a conservação de espécies ameaçadas em escala global, como as tartarugas marinhas, as baleias e o peixe-boi-marinho. É importante ressaltar que a destruição dos ecossistemas litorâneos é uma ameaça para o próprio homem, uma vez que põe em risco a produção pesqueira, uma rica fonte de alimento e geração de renda e trabalho.
- A integridade ecológica da costa brasileira é pressionada pelo crescimento dos grandes centros urbanos, pela especulação imobiliária sem planejamento, pela poluição e pelo enorme fluxo de turistas, na sua maioria ainda sem consciência ambiental. A ocupação predatória vem ocasionando a devastação das vegetações nativas, o que leva, entre outras coisas, à movimentação de dunas e até ao desabamento de morros. O aterro dos manguezais, por exemplo, coloca em perigo espécies animais e vegetais, além de destruir um importante "filtro" das impurezas lançadas na água. As raízes parcialmente submersas das árvores do mangue espalham-se sob a água para reter sedimentos e evitar que eles escoem para o mar. Alguns mangues estão estrategicamente situados entre a terra e o mar, formando um estuário para a reprodução de peixes. Já a expulsão das populações caiçaras (pescador ou o caipira do litoral) está acabando com uma das culturas mais tradicionais e ricas do Brasil. Outra ação danosa é o lançamento de esgoto no mar, sem qualquer tratamento. Operações de terminais marítimos têm provocado o derramamento de petróleo, entre outros problemas graves.
- A região da Costa Verde Fluminense é caracterizada pelas belas praias e ilhas que possui. Aí, ainda podemos encontrar, apesar da destruição criminosa que vem ocorrendo nas últimas décadas, remanescentes de manguezais importantes para a manutenção da fauna marinha. Áreas características de restinga estão bem caracterizadas. A restinga de Marambaia ainda aparece majestosa em nossa costa. Apesar de apresentar extensos e significativos costões rochosos, a região vem sofrendo com a especulação imobiliária e as ocupações desordenadas dessas áreas. Todo esse complexo se encontra ameaçado pela ganância e desinformação do homem.